My Diary #1


#1
CANCRO, essa doença que ao longo de gerações, tem sido uma ameaça de morte, mas sobretudo uma ameaça de sofrimento. 
Infelizmente, para além da minha mãe e pai, são inumeros os casos em familiares próximos. Por isso tenho a obrigação de o tratar por TU.
Durante os ultimos meses, tinha a certeza que algo não estava bem com o meu corpo: sentia-me exausta, fazia imensa retenção de liquidos e eram notórias as minhas olheiras profundas.
Apesar da pesada herança genética e dos sinais, nada nos prepara verdadeiramente para uma noticia destas.
Por isso, quando fui fazer a mamografia e ecografia mamária, no dia 23 de Setembro de 2016, o meu marido e meu grande apoio na vida, fez questão de me acompanhar. 
O médico mostrou-se preocupado com o que via e perguntou-me se queria levar o resultado dentro de meia hora, para o poder mostrar o mais rápidamente possível a um especialista.
Quando saí e contei ao meu marido, ficamos uns instantes os dois a chorar dentro do carro. Foram muito raras, as ocasiões em que vi o meu marido chorar nestes 18 anos juntos e por isso lamentei profundamente que o meu destino lhe cause este sofrimento.
O cancro não afeta só o doente, tem um impacto em todos aqueles que estão no nosso circulo mais próximo.
O relatório dizia ..." nódulo de cortorno algo espiculado e com várias microcalcificações...a medir 2,2 x 2,5cm...francamente suspeito de corresponder a formação atípica e a impor no mínimo controlo histológico a muito curto prazo."
Depois de ter escolhido o IPO de Lisboa, para me acompanhar, bastava agora aguardar um telefonema a marcar a primeira consulta.
Cada dia de espera, parece uma semana e durante este tempo, fui assolada por um turbilhão de emoções. Por recomendação de um amigo mexicano de longa data, conhecido durante uma das minhas participações no Miami Fashion Week como estilista convidada, comecei a escrever um diário, onde transcrevia algumas emoções.
Quando vejo o que lá está escrito, percebo que não o posso partilhar convosco. Os meus pensamentos sobre Deus e sobre a capacidade Dele em parar o sofrimento no mundo, não eram politicamente correctos, eram  queixas numa exaltada discussão em monólogo.
Porquê eu? Porquê agora, que tinha tantos projectos profissionais? Porquê de tanta coisa que correu mal para trás? O que queres de mim? 
Achei melhor não falar com ninguém sobre este assunto, não me apetece atender chamadas, explicar, contar o sucedido vezes sem conta. 
Finalmente o telefonema chegou, tendo infelizmente sido a minha filha de 13 anos a atender a chamada e a ficar com o recado. Felizmente para ela, o nome IPO não lhe diz nada e por isso transmitiu-me a informação da seguinte forma: "AH, esqueci-me! Ligou uma senhora cá para casa, a dizer que tens consulta marcada no IPO.".