My Diary #5
#5
Todos conhecem a musica do Bob Dylan –“Knockin On Heavens Door” (batendo à porta do Paraíso), também imortalizada pelos Gun’s & Roses numa versão mais Rock. Só que não… A música que eu ouvia internamente, era mais com o refrão ”Batendo à porta do inferno”.
Quando acumulas uma sequência de tratamentos de quimioterapia, ficas com o sistema imunológico, que te ajuda a proteger contra infecções muito debilitado, devido sobretudo, a uma diminuição dos leucócitos.
É Natal, quero comprar pessoalmente alguns presentes e por isso, apesar de me serem desaconselhados, os lugares com aglomerados de pessoas, nomeadamente devido a um surto de gripe, resolvo ir à Primark do Colombo.
Resultado: Apanhei um cocktail de várias infecções, que me provocaram febres altas, movimentos involuntários do corpo, hemorragias, dores e um tom acinzentado de pele, que nem o iluminador da ByTerry melhora.
Este foi o meu primeiro grande susto e o dia em que eu fui realmente obrigada a "ficar de joelhos" face à doença. Percebi que o meu corpo está mesmo vulnerável e que uma coisa relativamente simples pode levar-me a um estado limite em que eu não controlo nada.
Ao meu lado no internamento do IPO, oiço um senhor dizer: “Para quê tanto sofrimento? Estou cansado, às vezes preferia morrer.” Fecho os olhos e sinto as lágrimas a cair. O enfermeiro Nuno, vem ligar o antibiótico ao cateter e pergunta-me –“Está a chorar?” e eu respondo-lhe –“Não, é da gripe. Fico com os olhos congestionados.”
Não é o medo de morrer…é o sofrimento que assusta todos.
O mínimo movimento gera um enorme cansaço, as dores são incapacitantes, as veias não aguentam mais, estão doridas, a tensão baixa deixa-me tonta e os tratamentos tiram-me o apetite. Olho-me no espelho e não me reconheço, o meu aspecto exterior revela o que sinto no interior.
Embora seja uma doença com uma carga psicológica dramática, existe uma corrente de pensamento, da qual oiço frequentemente: "Isso hoje em dia já não é nada, tive uma amiga que também teve um Cancro na Mama e agora está óptima!".
Não julgo as pessoas por este pensamento, pois é muito difícil compreender o que sentem as mulheres fisicamente mutiladas e sujeitas aos tratamentos de combate ao cancro. Perdoem-me por não vos acompanhar nessa corrente, mas não acredito que alguém que passou por isto, esqueça por completo.
Graças ao tempo de espera na clinica da mama do IPO e ás sessões organizadas pela "Mama Help" na Fundação Champalimaud, são inúmeros os testemunhos que oiço. As mulheres sobreviventes do Cancro da mama, têm frequentemente, pavor a recidivas, ficaram com enormes "handicaps" a nível da mobilidade do braço, problemas vasculares e cardíacos, mas também com sequelas psicológicas. Isto não é uma gripe!