My Diary #8
#8
48 horas depois, o mamilo estava a ganhar uma cor castanha escura e foi necessário a intervenção do meu médico. Fecharam as cortinas brancas à volta da minha cama, e ele vai pedindo à enfermeira que lhe dê compressas e soro para retirar alguns coágulos, depois pede uma lamina 11 e realizou diversos cortes à volta do mamilo para acordar a circulação.
Esta intervenção rápida e experiente, fez com que os 3 ficássemos todos sujos de salpicos de sangue, qual trabalhador de um talho e eu um pedaço de lombo. É assim, e, tem de ser assim, esta doença não é para fracos, os médicos têm de ser fortes e competentes, com reflexos rápidos para intervir no momento certo.
Por outro lado os doentes têm de ter força para superarem o que for necessário fazer.
7 da manhã do dia 27 de março de 2017, as enfermeiras vêm buscar-me na cama, para a levar no elevador até ao piso das cirurgias.
Serei a primeira operação da manhã.
Já no bloco operatório, mudo da minha cama para a "mesa de corte", oiço musica clássica calmante e ao fundo entre vários médicos jovens, destaca-se o meu cirurgião, com uma touca muito colorida cheia de bonecos.
Dr. João Vargas Moniz
Enquanto me colocam agulhas, velcros e eléctrodos por todo o lado, olho para o lado esquerdo e vejo-o sentado a ler um livro pequeno que pode ser um manual ou uma bíblia, manda-me um beijo e adormeço.
A cirurgia demorou algumas horas, uma mastectomia com reconstrução, pode ser comparada a uma obra de génese, em que são tiradas peças de um lado para o outro, para que o resultado final, seja estética e funcionalmente tão perfeito como aquele com que nascemos.
A mama esquerda foi retirada, um músculo do dorso rodou para a mama, foi colocada uma prótese e fechada com pele das costas com um enxerto do mamilo, foram também retirados os gânglios da axila e um sinal suspeito.
Quando acordei, tinha muita gente à minha volta e avisaram-me que tinha perdido muito sangue e teriam de me dar uma transfusão, algo ao qual sou muito resistente, com base nas inúmeras doenças infecciosas e outras que podem ser contraídas por esta via.
Fraca, atordoada e contrariada, oiço o médico vir a correr na direcção da minha cama, como se tivesse a uns 10 metros (devia ser apenas 1m) e dizer:-"vamos operar outra vez, senão vou passar a tarde preocupado com isto".
Acordo mais tarde no SO, a enfermeira Patricia cuida de mim para que tudo corra bem e passados alguns minutos a minha irmã e o meu marido já estão ao meu lado.
A noite chega, olho para a cama em frente e vejo uma senhora de 88 anos, sofre de Alzheimer e está surda pela idade, também ela realizou uma mastectomia, quando me vê, acena-me e envia-me um beijo com a mão.
Procuro dormir entre as trocas de soro e medicamentos intra-venosos. Em volta do meu pé esquerdo sinto um aperto de hora a hora que vê a tensão arterial e no meu dedo direito tenho um sensor, os eléctrodos continuam colados à pele e ligados a uma maquina que dá sinal quando alguma coisa não está bem.
O braço esquerdo está dormente, tenho dores que rodam desde as costas até ao peito e três drenos lá enfiados a retirarem sangue e líquidos
Pensei para mim: ...Pronto! Já está. Só tens que recuperar disto. Mas os dias seguintes provaram-me que essa tarefa não seria fácil.48 horas depois, o mamilo estava a ganhar uma cor castanha escura e foi necessário a intervenção do meu médico. Fecharam as cortinas brancas à volta da minha cama, e ele vai pedindo à enfermeira que lhe dê compressas e soro para retirar alguns coágulos, depois pede uma lamina 11 e realizou diversos cortes à volta do mamilo para acordar a circulação.
Esta intervenção rápida e experiente, fez com que os 3 ficássemos todos sujos de salpicos de sangue, qual trabalhador de um talho e eu um pedaço de lombo. É assim, e, tem de ser assim, esta doença não é para fracos, os médicos têm de ser fortes e competentes, com reflexos rápidos para intervir no momento certo.
Por outro lado os doentes têm de ter força para superarem o que for necessário fazer.