My Diary #9

-"Podem ir fazer roldanas"- Diz a terapeuta a todas, quando a aula de Fisioterapia acaba. Espreito à porta para informar que já cheguei e ela faz sinal para eu entrar.
De imediato, sou abordada por uma "colega do peito", que cobiça o meu cabelo em crescimento: 
-Se tivesse assim o cabelo também largava a peruca!- Esclamou ela, enquanto colocava e compunha a sua. 

O IPO é para o doente Oncológico uma segunda casa. Quando se passa para dentro daqueles muros, há de imediato uma sensação de segurança, podemos tirar as perucas, gorros e olhar as pessoas de frente, estamos todos solidários e conscientes dos problemas que ali se enfrentam.
Muitas vezes só saí de casa para um sítio publico, acompanhada do meu marido. Porque de certa forma, o seu caracter protector, também me serve de escudo ao olhar estranho dos outros.
Lembro-me em particular, de um almoço em familia, numa conhecida pizzaria no Principe Real, onde a empregada vinha-me atender sempre com os olhos na raiz da peruca. 
-Siiiiiiiiimmm, não é meu este cabelo!-Pensei eu, já farta.
Por isso, estou radiante com ideia do cabelo estar lentamente a brotar, poro a poro, todos os dias. 

Sigo de edifício em edifício, para comparecer em todas as marcações que tenho naquele dia.
Entrego o meu cartão na recepção e espero que a Enfermeira me chame. Olho para a mesa da direita e vejo que são sempre as mesmas revistas, por isso decido entreter-me com o telefone.
Sinto um vento a passar por mim e claro, confirma-se, é o meu cirurgião em passo acelerado, que se desdobra de sala em sala.
ᐗ Alexandra Marques à sala 20!





Os meus olhos estão postos na seringa gigante⟾ que ele está a desempacotar. Uso o método de me agarrar com força à extermidade da marquesa, para descarregar a minha dor na coitada, enquanto ele me tira o seroma (
líquido próximo à cicatriz cirúrgica) da mama e assobia uma música pop dos anos 90.
Aparentemente o método da marquesa não foi suficiente e já me encontro toda transpirada, quando a tortura acabou.
Ah, espera... falta tirar das costas...
Esta foi uma tarefa para a delicada Enfermeira Raquel. Não doeu nada, porque ao cortarem um musculo das costas também cortaram nervos e portanto não sinto nada. Fixe!☺

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