My Diary #10
Apareceu gente maravilhosa na minha vida durante este período difícil, mas houve uma história em particular que desejo partilhar convosco.
Esta história marcou-me, porque alguém estava mesmo a dar o seu melhor para ajudar outrem. Obrigada Braulio pela generosidade e honestidade. Eu já não visitava a Feira da Ladra há pelo menos 27 anos.
Ainda há gente muito boa.
Terça-feira ás 9:00, já tinha 2 sacos prontos, com sapatos, alguns vestidos e o conjunto da minha peruca com a sua respectiva cabeça em esferovite.
Chego à Feira da Ladra e abordo inúmeros feirantes. Na maioria, todos têm bancas e expositores com cabides onde expoem uma enorme quantidade de roupa e acessórios em 2ªmão.
Sempre de mau humor, as respostas variavam do "não estou interessado", "isto não se vende nada","a esta hora ainda nem fiz dinheiro para lhe comprar nada".
Desmoralizada, fui obrigada a dar razão a minha mãe e marido que dizem que eu sou louca e voltar a subir em direcção ao arco que separa S.Vicente de Fora, do Campo de Santa Clara.
Cheia de calor e a contrariar todas as indicações sobre carregar pesos dada pelos médicos, decido desfazer-me dos sacos da roupa e regressar apenas com a fiel companheira peruca. Olho para o meu lado esquerdo (o maldito) e vejo um Senhor com um lençol no passeio, onde vende meia dúzia de coisas .
-Bom dia! Tenho aqui umas coisas que já não uso e que se quiser vender pode aproveitar, senão pode deitar fora. -Disse eu, entregando rapidamente, os enormes sacos
-Deixe-me o seu numero de telefone, que se eu vender alguma coisa ligo-lhe- Disse ele.
É claro que nunca me irá telefonar, pensei eu, mas dei na mesma...também não me apetece subir até às Portas do Sol, onde vou apanhar um Uber, carregada com os sacos.
Alguns dias depois...
Olho para o telefone e um numero que eu não conheço aparece novamente como tentativa de contacto, por isso resolvo retribuir.
-Boa tarde, tinha uma chamada deste numero...
-É o Braulio!-Disse ele.
-Braulio???
-Da Feira-Procurando identificar-se.
-Peço desculpa mas não estou a ver...
-É para lhe dizer que consegui vender umas sandálias por 6 euros, quer vir buscar o dinheiro no Sábado?
-Ó Sr.Braulio, você agora surpreendeu-me, nunca mais me lembrei disso, porque não contava que ninguém nunca mais me ligasse. Ainda há gente séria! Afinal ainda há esperança na humanidade. Faço questão que fique com o dinheiro e espero que consiga vender o resto.
-Não me faça essa desfeita.-Diz ele, desiludido.
-Sr.Braulio, esse dinheiro é seu, na verdade ficar com os sacos foi um favor que me fez! Estou a recuperar de um Cancro na mama e não devo carregar pesos, teria abandonado os sacos em qualquer lado.
-Prometo passar um dia na Feira da Ladra, com os meus filhos e marido, para eles o conhecerem e para lhe agradecer.-Disse-lhe eu, dando-lhe o reconhecimento devido pela sua boa acção.
-Sabe...Quando a vi, lembrei-me da minha mulher que também teve cancro de mama há 7 anos e percebi que estava a atravessar um momento difícil.
Esta história marcou-me, porque alguém estava mesmo a dar o seu melhor para ajudar outrem. Obrigada Braulio pela generosidade e honestidade. Eu já não visitava a Feira da Ladra há pelo menos 27 anos.
Ainda há gente muito boa.
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