My Diary #14

Segundas oportunidades...

O cancro é uma experiência marcante na vida de doentes, familiares e amigos. O choque do diagnóstico, as limitações associadas aos tratamentos e a incerteza quanto ao futuro, contribuem para um sentimento de tristeza e angústia.

Durante o tratamento tive de ir buscar forças a todo o lado, para suportar as dores causadas por aquilo. Lembrei-me frequentemente do meu pai e dos dias em que ele vinha trabalhar e desmaiava. 

Também eu tive situações dessas. Acontecia normalmente quando fazia qualquer esforço que aumentasse a minha frequência cardíaca. Uma dessas situações aconteceu-me no Continente enquanto fazia sozinha compras, enfim... foi todo um espetáculo que não queria dar em publico!

Mas e agora? Como é a minha vida?

Normalmente dizem-nos que quando temos uma "segunda oportunidade", temos de a aproveitar melhor e mudar o que estava mal. Mas infelizmente não é assim tão fácil.
Se há algo que mudou para mim, foi perceber que tinha na minha vida imensa gente maravilhosa, disponível a ajudar e que sentia um grande carinho por mim (não fazia a mínima ideia que assim era). Essa descoberta encheu-me a alma e teve um grande impacto na minha auto-estima. 

Adoro falar com mulheres que passaram pelo mesmo que eu, as chamadas "amigas do peito". A nossa comunicação é fácil e existe uma empatia imediata, pois só nós sabemos o que realmente suportamos. A ultima vez que acompanhei uma delas à sua penúltima sessão de quimio, não lhe encontravam veias. Picaram diversas e ao tentar introduzir a larga agulha por onde entram os líquidos, todas rebentavam. No cadeirão ao lado a senhora desfaleceu e a toda a volta vi bastantes mulheres jovens em sofrimento e descaracterizadas pela doença, pálidas, inchadas e sem cabelos. Voltar aquele lugar ajuda-me a não esquecer o que suportei e a lutar para não ter voltar a passar por ele.
A dureza dos tratamentos e os efeitos que tiveram no meu corpo são enormes.
Na ultima consulta, expliquei esta circunstancia ao meu cirurgião e soube que as medicações têm um alto nível de cardio-toxicidade, provocando arritmias, hipertensão arterial ou insuficiência cardíaca.
Imaginem portanto, como são alguns dos meus dias... Sim, não são fáceis!

Estou a tentar recuperar a minha vida e normalidade, pouco a pouco.
Já comecei a trabalhar e estou muito feliz por isso. O cabelo já cresceu bastante! :-)
Durante 1 ano, ganhei 9 quilos, devido aos tratamentos de cortisona e esteroides, à falta de mobilidade e às alterações hormonais. Pensei que poderia perder facilmente depois, mas com as alterações hormonais, não é assim tão fácil.

Tenho um lema que criei para me ajudar "VouRecuperarOQueEMeu"

Vivam as segundas oportunidades!


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